quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A Arte finjutsu da “apropriação cultural”, da “pseudagem cultural” e da “pseudagem monástica”


Voltamos a abordar o assunto sobre os monges de boutique que aparecem por ai.
Infelizmente há um grande mal entendido com relação a alguns praticantes de arte marcial no quesito religiosidade oriental. Devido ao fato dos ocidentais, e principalmente os brasileiros, pouco entenderem os princípios filosóficos que pairam sobre os países asiáticos e consequentemente sobre o misticismo que envolve as artes marciais oriunda destes países.
Já comentamos sobre este assunto em outros posts, principalmente neste aqui: O hábito (literalmente) não faz o monge.
Um leitor da página do INAM no Facebook veio com este cartaz mostrando esta “apropriação cultural” aqui.



Resolvi dar uma olhada nisto e cheguei a conclusão que o tema deve ser mais abordado, pois a “apropriação cultural” nas artes marciais é um ato corriqueiro. Antes do termo "apropriação cultural" virar jargão dos movimentos sociais o INAM já tinha usado o termo "pilhagem cultural" para descrever os atos de um grupo de finjuteiros. No caso abordado neste post comentaremos a “apropriação cultural” que usa elementos da religiosidade oriental. A arte marcial que mais sofre com isto é o Kung fu (Wushu), principalmente o estilo Shaolin que tem uma história intimamente ligada ao budismo e a figura de Bodhidharma. Porém o Kung fu não é o único, isto também acontece com qualquer arte marcial de origem asiática seja ela chinesa, japonesa, tailandesa, etc. Na verdade a confusão se dá porque tanto a religiosidade oriental quanto a história das artes marciais se entrelaçam. Sim, é fato que tanto a religiosidade quanto as filosofias orientais influenciaram as artes marciais asiáticas, pois isto faz parte de todo o contexto histórico que envolve a cultura asiática como um todo. Não é por caso que as confusões com relação ao assunto sejam corriqueiras, pois por ser a religiosidade e filosofia oriental extremamente complexa, a linha tênue que separa o que é cultural de fato do que é pseudo cultura é frequentemente ultrapassada. É por isto que vemos frequentemente estes monges de boutique aparecerem, pois além de ser uma cultura complexa, o ocidental muitas vezes entende patavinas dela e, por não entender, cria fantasias conforme as suas experiências e percepções.

Não só os monges de boutique são exemplo disto, mas outras pseudagens como o pseudo arte marcial dita “chinesa” vinda da argentina, mais conhecida como Pakua. Esta arte marcial “chinesa” hermana usa e abusa de forma totalmente estereotipada de elementos do taoismo. Inclusive os mespones da farsa preta do Pakua se deram o trabalho de fazer um pacote turístico até a China para fazer fotos ao lado de sacerdotes taoistas. (vide postanterior)

Pilhagem cultural aliada a pseudagem cultural

O que não falar do Wayshia Kempo que além de usar elementos do budismo também o mistura com o hinduísmo para justificar sua arte marcial do Khmer “sincrética” e “miscigenada” segundo palavras do próprio filhote de mestre Bione. Aliás o próprio mestre A. Bione vem com "pseudagem cultural" quando quer justificar sua “filosofia khmeriana sincrética miscigenada hindo-budista”. Um exemplo disto foi quando ele quis justificar o uso dos caracteres japoneses no logo do Wayshia Kempo. Para isto citou inclusive o nome de monge Kukai que teria fundado a linha de budismo esotérico japonês conhecida como Shingon*. É fato que os alfabetos silábicos japoneses (hiragana e katakana) derivam dos ideogramas chineses (kanji) e o budismo japonês tem parte significativa na criação destes, mas dizer que eles são uma forma de sânscrito**…

Mestre Bione, só na pseudagem...

Pseudagem cultural sincrética e miscigenada,
 hindo-budista, khmeriana, "zen-bionistica"
Este nem para cospobre serve...

Outro que apareceu foi um a Abade Shaolin Richard. Ele insiste em se fantasiar de monge, mesmo passando vergonha no INAM. Outro dia apareceu um diploma de um “shigun de abade” 10º Grau! Pode isto? Se realmente existisse este abade Shaolin no Brasil a comunidade budista falaria dele assim como falam dos lamas do budismo tibetano, dos mestres dos budismos Zen e Chan. O “Abade” Richard apareceu no INAM e mandou uma mensagem In-Box dizendo que estava “constrangido” de ser exposto na página e que a irregularidade já tinha sido descoberta, porém no final do ano ele ainda estava usando a fantasia de “monge”, e inclusive, o manto mudou de cor. Tentou deixar a roupa mais parecida com o manto dos budistas chineses, pode até enganar, mas ainda não esta nos padrões desta linhagem. Repetimos: não existe escola de formação monástica de budismo Shaolin no Brasil. Neste caso a "pilhagem cultural" esta totalmente desonesta.



Adade Shaolin no Brasil? Ainda 10ºGrau?
Depois que foi denunciado ficou com vergonha...

O "shigun de Abade" e o "Abade" (sqn)

Ficou constrangido, mas continua se fantasiando de monge

Outro é o Wei Chimp Ao que desde o início se fantasia de monge, roupa esta que de monge tem absolutamente nada a haver com os mantos dos monges chineses, chega a ser cômico. Notem que ao seu hábito parece muito mais uma tentativa fracassada de se fantasiar de monge, acreditamos que cosplayer que se vestem Kuririn (Dragon Ball) façam melhor. Até os gestos dos monges ele tenta imitar, mas provavelmente isto deve ser apenas encenação, pois saber o que significa com certeza não sabe. Wei Chip Ao também se mete de acupunturista e terapeuta holístico. 

Wei Chimp Ao, a muito tempo na pseudagem cultural
Até tenta, mas não consegue convencer.
 
Outro grupo é um do RJ. Este até é Kung fu, mas infelizmente apelou para a "pseudagem monástica". Diz que foi ordenado na China, no templo shaolin de Emei. Mas o templo de Emei é lendário, e se existiu, foi destruído ou desativado a cerca de 300 anos. Nesta fantasia da foto ele até tentou, mas passou longe... Atualmente a roupa de monge esta melhor. Se este abade fosse tão importante a comunidade budista falaria dele. Outra, cadê a escola de formação de monges shaolin? Abade pelo que saibamos é um chefe de templo ou de mosteiro. Há relatos que ele se diz um monge que segue a linha Taoista!! O que? Taoista com roupa de budista? Para de mentir que fica feio!

Mais um que curte uma psedagem monástica

Agora saindo um pouco do que diz respeito a China e pegando a parte japonesa, temos os grupos que exploram incansavelmente o já citado Zen Budismo além de outros elementos que fazem parte do sincretismo japonês. Na carona disto vem os que exploram incansavelmente o Budo e o Bushido. Sem citar nomes tem uma Sr. que resolveu explorar isto da maneira mais doutrinária possível criando um instituto que ensina “kenjutsu”. Pessoas que nunca tiveram contato com a cultura japonesa entram neste “instituto” e saem de lá se sentindo verdadeiros “samurais do sec. XXI” gritando “onegaishimasu” e falando “hay” para todo mundo. O sistema que mantinha os samurais ruiu com o início da era Meiji e nos dias atuais faz pouco sentido existir, tanto que foi reformulado para o atual Budo, o Karate, Judo, Aikido e o Kendo (derivado do kenjutsu) fazem parte deste conceito. Mesmo este Budo muitos ocidentais pouco entendem e muitas vezes distorcem. Sim, muitas vezes se fantasia a cultura japonesa assim como os princípios espirituais do “DO” no qual muitos distorcem vírgula por vírgula. Cá para nós, ler hagakures, biografia do Musashi e ficar como um lobotomizado gritando "onegaishimasu" não te torna um "japonês", muito menos do período anterior a era Meiji. Os japoneses e seus descendentes só lamentam por esta gente.

Outro grupo que explora de forma descarada elementos da espiritualidade japonesa é a turminha dos ninjas de boutique, mas estes vamos deixar para outra ocasião, pois estamos elaborando uma matéria especial para estes.

Dentro das artes marciais tailandesa também temos diversas manifestações de pseudo cultura religiosa, pois a toda a cultura tailandesa esta intimamente ligada as crenças budistas. O Muaythai, luta muito visada nos dias atuais, tem sofrido com a "pseudagem cultural. É muito comum os mespones criando modinha no pseudo Muaythai, fazendo do mongkon uma indumentária obrigatória do uniforme e exigindo que cada aluno use um durante as aulas, sem falar que alguns insistem em fazer reverencia e falar “sawade” a todo o instante, isto quando ao invés de falar “sawade” não falam “OSS”. (Veja mais neste link). Mongkon só se usa no Ram Muay uma dança que é feita pelos lutadores em homenagem a seu campo de treinamento e a seu treinador.

O termo “apropriação cultural” muito usado atualmente por movimentos sociais pode ser usado nestes casos quando um mespone farsa preta usa categoricamente elementos de uma cultura para “vender seu peixe” e iludir seus seguidores. Dizem que a “apropriação cultural” é quando se pega os elementos de uma cultura, se apropria deste e o usa a seu bel prazer descaracterizando-o e/ou distanciando-o do seu significado original. Isto é o que acontece com algumas artes marciais, principalmente no caso do “instituto de kenjutsu” e no caso de algumas escolas de “ninjutsu fake” que encontramos por ai. Os Biones usam e abusam de “apropriação cultural”, o pakua hermano então… Até para a China viajam para manter sua farsa.

Algumas vezes a fantasia é tanta que o termo “apropriação cultural” se torna inadequado, pois as invenções atribuídas a uma cultura é tão grande que se esgotam os recursos da “apropriação” (exatamente pelo fato de desconhecerem a cultura original), com isto estes começam a apelar para as invenções de pseudo cultura que aos olhos de gente muito leiga passam totalmente despercebidas. É o famoso ACHISMO! O pakua é um que quando a história dos tigramas e dos pontos de mutação se esgotam eles partem para a criação de pseudo cultura. Os Biones apelam para a pseudo cultura lançando mão das teorias bionescas de “miscigenação cultural sincrética”. Os ninjas de boutique nem se fala, até bebes japoneses afogam nos seus contos. E os monges de boutique é pura invencionice, mesmo porque não existe monastério Budista Shaolin e nem iniciação desta linha monástica no Brasil. Estes nem conseguem deturpar cultura budista porque sequer sabem os princípios desta religião fazendo uma miscelânea cultural mística. O termo que mais descreveria estes impostores é o que citaremos agora: “pseudagem cultural”!

A “pseudagem cultural” é a incrível capacidade de inventar elementos culturais que de fato não existem numa cultura e as tornar supostas “verdades” se valendo de falácias, ou de meias verdades. Além de distorcer completamente os elementos para justificar pseudo cultura. É o ato de criar um elemento cultural tendo por base o achismo e atribuí-lo a uma determinada cultura. A “pseudagem cultural” é um recurso desonesto que lança mão de mentiras para iludir, enganar, fazer os leigos acreditarem que algo que é ilegítimo se torne legitimo.


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